Ofertas inconvenientes
2 de Julho de 2003

            Que atire a primeira pedra quem nunca tenha atendido a um telefonema no qual uma pessoa do outro lado da linha, que certamente não a conhecemos, oferecia um consórcio de carros ou motos com preços super promocionais, tentava vender de planos de saúde, planos odontológicos, solicitava votos em eleições, além de outras inconveniências. Que o digam os moradores das grandes capitais! É bem interessante esta forma de comunicação: alguém que você nunca ouviu falar liga para você, na maior intimidade, como se fosse uma pessoa conhecida, sendo que esta pessoa também nunca o(a) viu na vida.
            Algumas vezes indicada por “amigos” (amigos da onça) e outras obtendo os dados através do catálogo telefônico, no qual consta o nome da pessoa, número telefônico e endereço, pelo qual pode-se escolher o bairro de acordo com o poder aquisitivo daquela região, o cidadão, que parece desconhecer a cidadania das pessoas, efetua várias ligações durante o dia para oferecer seus produtos ou serviços, deixando muita gente nervosa, principalmente quando estavam deixando de fazer algo importante para atender ao telefone, e mais ainda quando chegam ao ponto de saírem correndo do banho, molhando a casa toda, simplesmente para ouvirem uma oferta de um desconhecido.
            Me lembro bem, quando ainda morava com meus pais, quando alguém ligava para a nossa casa e pedia para falar com o meu pai, chamando-o pelo seu nome completo. Meu pai já ficava indignado, ciente de que eram propagandas, que às vezes já atendia ao telefone dizendo que não queria comprar coisa alguma. Parece até que quanto mais a pessoa que nos liga conhece o nosso nome completo, menos ela nos conhece.
            Nas grandes capitais brasileiras, as ofertas por telefone chegam a incomodar. Mas, não tanto como nos Estados Unidos, onde foi criada uma lei que multa a empresa que ligar para um dos números constantes numa lista de pessoas que não querem receber ligações provenientes de telemarketings. Nas 12 primeiras horas em que a lista foi criada pelo governo dos EUA na Internet, 370 mil pessoas se inscreveram no programa. Para o norte-americano se cadastrar, basta acessar o endereço
www.donotcall.gov, e inscrever o seu número telefônico. Ele também pode fazer esta opção por telefone, discando para o número 1-888-382-1222, específico do “Do Not Call”, que quer dizer “não ligue”.
            A lista entrou no ar no dia 27 de junho. Em apenas quatro dias, mais de 13 milhões de norte-americanos já tinham cadastrado seus números telefônicos na lista, perfazendo uma média de mais de 140 mil novas inscrições por hora! A nova lei vale a partir do próximo 1o de outubro e tem o poder de multar em até US$ 11 mil por chamada a empresa que insistir em ligar para um dos números cadastrados. Porém, a multa não se aplica a empresas de pesquisa, políticos, religiosos, organizações de caridade e ONGs.
            Nos Estados Unidos, a inconveniência dos telemarketings é tão grande que um sistema informatizado liga para as residências automaticamente e, quando a pessoa atende, inicia uma gravação e deixa a pessoa esperando na linha até que um operador possa atender à ligação para fazer a sua oferta. A nova lei também estipula que, nestes casos, a empresa também pode ser multada caso não coloque um operador na linha em até 2 segundos após o atendimento telefônico.
            A cada três meses, as operadoras de telemarketing devem fazer uma sincronização da sua base de dados buscando as novas informações no sistema Do Not Call para evitar as multas.
            A Comissão Federal de Comércio norte-americana estima que, dentre as 160 milhões de linhas telefônicas residenciais existentes nos Estados Unidos, mais de um terço delas serão registradas no primeiro ano de atividade do programa. Segundo a empresa de pesquisa Hitwise, o site Do Not Call ficou, neste último sábado, em 22a lugar em relação às páginas mais acessadas da Internet.
            O próximo alvo dos políticos e líderes dos Estados Unidos, numa ação conjunta com a Europa e Austrália, serão as empresas que se enviam Spam, que são as correspondências recebidas via e-mail sem autorização e distribuídas em larga escala, congestionando as caixas de e-mail e ameaçando desestabilizar a rede mundial de computadores. Uma pesquisa com 300 consumidores norte-americanos concluiu que oito em cada dez pessoas gostariam que as pessoas que enviam Spam fossem multadas já que, atualmente, cerca de metade dos e-mails que trafegam na Internet são spams.
            Porém, caso a limitação não seja feita a nível mundial, um spammer (pessoa que envia um spam) pode passar a enviar os milhares de e-mails por outros países nos quais não há punição para o caso. Só não seriam considerados spams os e-mails enviados para pessoas que teriam consentido em receber tais tipos de e-mails.
            Caso conseguissem acabar com os spams, a velocidade da rede mundial de computadores aumentaria consideravelmente e, certamente, o nível de estresse das pessoas que se utilizam de e-mails diminuiria em semelhante proporção.

André Basílio é Diretor, Analista de Sistemas e Supervisor de Ensino da AB INFORMÁTICA.